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Arquitetos: Tezuka Architects
- Área: 176 m²
- Ano: 2024
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Fotografias:Katsuhisa Kida / FOTOTECA

Descrição enviada pela equipe de projeto. Há pelo menos cinco séculos, Tokoname vem abastecendo o arquipélago japonês com tsuchimono (artefatos de barro), prosperando nas encostas voltadas para a Baía de Ise. O termo tsuchimono é usado aqui intencionalmente, em vez de “cerâmica”, para enfatizar que os produtos de Tokoname vão além dos utensílios do cotidiano, abrangendo também elementos de engenharia civil, como tubos e telhas de barro. Tokoname se orgulha desse papel mais profundo e abrangente: o de sustentar, de forma visível e invisível, a vida cotidiana em todo o Japão.

O terreno do projeto está localizado ao longo do caminho que leva a Dokanzaka, uma espécie de “Ginza” de Tokoname. Por conta das peculiaridades da história local, o solo é repleto de fragmentos de tubos e cerâmicas. As construções nessa área carregada de atmosfera parecem emergir das camadas de detritos cerâmicos acumulados ao longo do tempo. Em vez de casas elegantes, predominam os edifícios escurecidos e comuns — estruturas modestas que sustentaram os meios de vida dos moradores e, juntas, conservam a identidade da cidade.


O doma*, espaço tradicional de piso de terra batida, envolve toda a casa. Nesta cidade moldada pela cerâmica, era comum que as lojas funcionassem nesse espaço. Embora os produtos já estivessem queimados no forno e, portanto, não fossem vulneráveis à poeira, essa configuração se consolidou como tradição. Aqui, a área da loja contorna o edifício, aproveitando as três faces do terreno voltadas para a Baía de Ise.






A construção assume a forma de uma pequena casa encaixada dentro de outra maior — como uma gema dentro da clara do ovo. Um shikidai (degrau de entrada), que também serve como área de descanso, conecta o doma à residência. Entre os espaços de convivência e o doma, há uma divisória feita com yukimi-shōji invertido — painéis deslizantes com vidro na parte superior em vez da inferior, como tradicionalmente. Esse recurso foi pensado para permitir que os moradores colaborem nas atividades da loja sem abrir mão da privacidade. Como a área residencial fica cerca de 350 mm acima do doma, o painel inferior mago-shōji pode ser levantado até aproximadamente 1000 mm, protegendo o interior da vista de fora.



Quando todas as divisórias são abertas, a loja se transforma em um amplo espaço semiaberto, sombreado pela cobertura. As beiradas do telhado se projetam 4,7 metros além da estrutura principal. Em construções tradicionais de madeira, essas projeções costumam ser sustentadas por hijiki (braços de apoio diagonais). Neste caso, caibros de extremidade sustentam as ripas da beirada, alinhadas com a viga externa. Embora a estrutura possa parecer incomum, trata-se de um exemplo clássico da carpintaria tradicional japonesa. A sensação de novidade vem apenas do fato de essa configuração aparecer em uma residência — e não em um templo.

Dado seu contexto urbano e histórico, é natural que turistas se confundam e parem para fotografar a construção, achando que se trata de um monumento antigo. Mas, na essência, ela é apenas — e precisamente — uma entre as muitas casas humildes que se alinham, lado a lado, nesta cidade marcada pela cerâmica.
*Doma é um espaço tradicional japonês com piso de terra batida, localizado na transição entre o interior e o exterior da casa. Já o Yukimi Shōji é uma divisória deslizante tradicional, composta por uma moldura coberta com papel translúcido e uma seção inferior de vidro, permitindo a contemplação do jardim — especialmente coberto de neve — enquanto se está sentado dentro de casa.






















